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10 de June de 2019Os olhos todos do mercado financeiro estão todos voltados, nesta quarta-feira (22), para os sinais que o Federal Reserve, o banco central norte-americano, sobre o pacote de estímulos à economia dos EUA e o futuro da taxa de juros nos EUA. Do mesmo modo, no Brasil, atenção também para a taxa básica de juros, a Selic, que o Copom (Comitê de Política Monetária) atualiza no final do dia. As projeções do mercado indicam um aumento de 1% para 6,25%.
E toda essa atenção se dá porque, neste momento, o mercado tenta entender quais serão os rumos tomados pela economia global passados os momentos mais graves causados pela pandemia do coronavírus. Um dos principais resultados do completo desequilíbrio em que o quadro econômico mundial se encontra e de onde tenta sair é da severa pressão inflacionária generalizada.
O diretor da consultoria macroeconômica LucrodoAgro, Eduardo Lima Porto, reuniu diversos fatores que levaram o mundo a passar pelo atual momento, relembrando variáveis que foram sinalizadas e muito discutidas desde que a pandemia se instalou. E mostra que tais sinais apareceram, inclusive, antes da Covid-19 e foram "apenas" intensificadas pela doença que assola o mundo há dois anos.
"A espiral inflacionária iniciada há alguns anos é derivada das medidas de afrouxamento monetário, conhecidas por “Quantitative Easing”, as quais possibilitaram o crescimento do endividamento a taxas próximas de zero e estimularam a demanda por ativos reais e commodities ao redor do mundo.
As consequências desse processo foram agravadas pelo advento da COVID-19 e serviram para desorganizar vários elos da cadeia logística global", afirma o especialista.
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As atuais taxas de contêineres são as maiores da história, os valores dos fretes registram patamares históricos e, olhando com mais detalhe para o agronegócio global, a falta de insumos e gargalos severos sentidos agora preocupam os produtores que estão dando início a uma nova safra no Brasil, mas que podem sentir os efeitos de tudo isso também em sua próxima temporada.
"A falta de insumos decorre de um problema conjuntural que foi sendo formado ao longo dos últimos anos e que veio a ser agravado com o advento da pandemia. E a pandemia não foi a causadora da espiral inflacionária global, mas atuou como catalisadora e até de “cortina de fumaça” para distrair o Mundo acerca da evolução da bolha", complementa Lima Porto.
FERTILIZANTES
Assim como mais analistas ouvidos pelo Notícias Agrícolas, entre os insumos agrícolas, o que mais chame a atenção são os preços dos fertilizantes. E a elevação expressiva não se deu somente no Brasil, mas nos principais países produtores do mundo. A demanda por commodities agrícolas cresceu de forma agressiva, os preços acompanharam, e os insumos também. Ao lado do consumo crescente, a oferta foi comprometida por inúmeros fenômenos alinhados ao mesmo tempo. Resultado? Aquilo que o mercado chama de "tempestade perfeita".
Dados levantados pela agência de notícias Bloomberg mostra que os preços da ureia marcaram sua máximas desde 2012 na região de Nova Orleans, nos EUA. A passagem do furacão Ida no país gerou problemas sérios nas proximidades e comprometeu a produção e a logística locais, elevando ainda mais as referências. Para os fosfatados - ou DAP - são os valores mais altos desde 2008.
"O custo do fertilizante é um dos maiores impulsionadores da inflação global de alimentos, agora que os preços de todos os três grupos de nutrientes - potássio, fosfato e nitrogênio - estão em níveis não vistos há cerca de uma década”, Elena Sakhnova, analista da VTB Capital em Moscou, na Rússia, à Bloomberg.
Depois de problemas com matérias-primas para fertilizantes sendo registradas no Canadá, na Bielorrússia, na China, a temporada de furacões e tempestades tropicais nos EUA também gerou prejuízos. Ainda segundo a agência internacional, os problemas logísticos registrados na região do Golfo comprometeram a entrada e saída de produtos e ainda promoveu o fechamento temporário de fábricas na região, que conta com o maior complexo de nitrogênio do mundo, da CF Industries Holdings Inc.
"A empresa foi então forçada a fechar duas fábricas no Reino Unido devido ao rally recorde da Europa em gás natural, a principal matéria-prima para grande parte do nitrogênio produzido globalmente. Na sexta-feira (20), a Yara International ASA disse que os altos preços do gás natural a forçariam a reduzir em cerca de 40% de sua capacidade de produção europeia de amônia, usada para fazer fertilizantes", noticiou a Bloomberg.
Nesta semana, como informou a Agrinvest Commodities, as ofertas de ureia CFR Brasil (custo e frete BR) registraram um aumento de US$ 30,00 por tonelada em apenas um dia. "O movimento nas últimas semanas foi sustentado por três fators: complicações logísticas do furacão Ida, gás natural nas alturas e a Índia voltando ao mercado", explicou o analista de fertilizantes da consultoria, Jeferson Souza.
GLIFOSATO
A cruel passagem do furacão Ida deixou rastros também na produção de glifosato, uma vez que fechou a maior fábrica do defensivo nos EUA. A Bayer confirmou que sua planta em Luling, no estado da Louisiana, foi desativada e a retomada das atividades ainda não tem data definida. Nos últimos meses, a oferta escassa não só do glifosato, mas também do glufosinato, promoveram uma alta de 50% nos preços do mercado americano.
Ainda de acordo com os números apurados pela LucrodoAgro, o valor do glifosato saltou de US$ 3,08 por quilo para algo entre US$ 7,79 e US$ 8,00. "São combinações de pressão de mercado e somando a isso há a elevação de frete de contêineres e mais a lentidão que vem acontecendo no processo deste tipo de carga temos a combinação perfeita de caos", explica Lima Porto ao Notícias Agrícolas em uma entrevista em julho último.
O aperto na oferta de matéria-prima para o glifosato começa na China, com restições ambientais para a indústria da nação asiática. Paralelamente, inundações severas afetaram também regiões da chamada rota glicínica, na China, o que também afetou a oferta de fósforo amarelo para a produção do glifosato. Diante de tudo isso há uma demanda maior por parte, principalmente da América do Sul, e a situação toda se intensifica.
LOGÍSTICA
Além das questões ligadas à produção, a logística é mais um ponto de atenção e que agrava o quadro. As taxas de contêineres no mundo todo chegam a registrar um aumento de até 1000% se comparadas ao ano passado. O Notícias Agrícolas tem destacado tais problemas nos últimos meses, com relatos de preços dos contêineres do Brasil para a China que custavam menos de US$ 1 mil superando o valor dos US$ 5 mi. Nas rotas EUA-China, as taxas chegaram a bater nos US$ 20 mil.
COMO FICAM OS PRODUTORES RURAIS?
Não importa onde estejam, os produtores rurais neste momento estão preocupados e apreensivos diante dos preços altos e dos gargalos logísticos que atrasam a chegada dos insumos para dar andamento às safras atuais. "À medida em que os preços dos fertilizantes continuam a subir, os agricultores vão cortar as taxas de aplicação, cortar o fertilizante inteiramente na esperança de preços mais baixos no futuro ou cortar outros produtos agrícolas para compensar o maior gasto esperado", disse Alexis Maxwell, analista da Green Markets, empresa que pertence ao grupo Bloomberg.
Mesmo que não cortem ou diminuam a utilização diante dos altos preços, o atraso da chegada de alguns insumos para produtores brasileiros em diversas regiões do Brasil já é uma realidade e uma preocupação. Guilherme Lamb, produtor rural em Maracai, São Paulo, relata problemas com a entrega de herbicida para o combate à buva, além do atraso na chegada de gesso e calcário em sua propriedade.
"O gesso agrícola está com problema logística. Nos defensivos, há problemas bem complicados com alguns ativos, principalmente herbicidas. No adubo, quem já comprou, na nossa região, está sendo entregue", relata.
Em Campos de Julio, no Mato Grosso, o plantio da soja 2021/22 foi paralisado nesta semana, poucos dias depois do fim do vazio sanitário, não só por conta da falta de chuvas suficientes, mas também pelo atraso na chegada de alguns insumos. O produtor local, Tiago Comiran, relatou que há muito atraso na entrega de de defensivos e fertilizantes, e até mesmo de algumas máquinas compradas que ainda não chegaram nas propriedades.
Se os produtores estão preoucupados, a produção está sendo redefinida, segundo acreditam os especialistas. E uma das culturas que mais pode sentir é o milho, onde os fertilizantes respondem por cerca de 20% dos custos de produção, ainda segundo a Green Markets.
Caso o quadro se agrave, para os EUA, a expectativa da empresa é de que possa haver uma mudança de área do cereal para culturas mais baratas como a soja, ou lentilha e ervilha. E a opinião é compartilhada pelo produtor de Iowa, Ben Riesche, ouvido pela Bloomberg.
"Estamos prevendo que isso terá impacto na batalha por área plantada no próximo ano. Como resultado, estamos acreditando em uma área menor de milho no próximo ano", disse à agência internacional o economista-chefe de commodities da StoneX, Arlan Suderman.
E OS CONSUMIDORES?
Enquanto isso, os preços dos alimentos seguem elevados no mundo todo, ainda causando impacto severo sobre a inflação, voltando ao começo da conversa e ainda podendo implicar em temores diante de possíveis combustões sociais.
"O Índice de Preços dos Alimentos da FAO se aproxima do pico histórico que desencadeou a Primavera Árabe no Egito e se alastrou por diversos países árabes e africanos, resultando numa crise humanitária de grandes proporções com o deslocamento de milhões de pessoas rumo à Europa. O estopim foi a escassez e os preços altos do milho e do trigo", conclui Eduardo Lima Porto.
As atenções seguem se intensificando entre todos os elos das cadeias de produção, distribuição e abastecimento.
Por Carla Mendes
Original de Notícias Agrícolas
Jurídico, Gestão, Inovação e Tecnologia são os quatro pilares de consultoria no Agronegócio da Foraster Agrointeligência.