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Fórum realizado em Pernambuco debateu o preconceito de gênero e mostrou como deve ser o futuro feminino no setor produtivo

Foi realizado na última quarta-feira, dia 24, em Petrolina (PE), o 1º Fórum de Mulheres Empreendedoras do agro. No evento, que reuniu cerca de 70 mulheres, foi discutido o papel feminino no setor e como a discriminação de gênero fez com que o processo de igualdade demorasse muito a ser vislumbrado tanto nas fazendas como em empresas.

A ideia do encontro partiu da Corteva Agriscience, depois que uma pesquisa feita pela empresa revelou que 73% das mulheres do campo acreditam que há desigualdade de gênero no Brasil, enquanto a média mundial é de 66%. A mesma pesquisa apontou que, para derrubar as barreiras e conquistar a igualdade de gênero, 80% das mulheres apostam em treinamento e educação acadêmica.

Nesse sentido, a publicitária e especialista em Marketing Digital Luana Trindade criou a comunidade Empreendedoras do Vale, que tem como missão unir as mulheres do Vale do São Francisco, importante polo produtor de frutas do sertão nordestino. “Nós criamos essa comunidade onde as mulheres se sentem representadas, e posso dizer que, um ano após esse início, o resultado vem aparecendo. Não adianta se reunir apenas por se reunir, é preciso falar de negócio e é isso que estamos fazendo”, contou.

Com uma plateia 100% feminina, o fórum reuniu produtoras, pesquisadoras, advogadas, engenheiras e especialistas em exportação de produtos do agronegócio. Em comum, todas elas ressaltaram a importância da capacitação e os desafios em unir o trabalho e a família.

“Nasci em uma família machista, como a maioria no Brasil, e foi uma luta para conseguir chegar onde estou. Casei cedo, tive filho nova e continuei a minha trilha, mesmo grávida, no mestrado e depois no doutorado. Nunca parei e mesmo depois de fazer um pós-doutorado eu tinha dúvidas, afinal, não conseguia um posto de destaque, até que consegui passar em um concurso da Embrapa, onde construí a minha carreira”, contou a pesquisadora da Embrapa Semi-árido Beatriz Paranhos, que é especialista em controle biológico de pragas.

As barreiras familiares não apareceram apenas na vida pesquisadora. Outra convidada do evento, Carol Coelho, hoje especialista em exportações, conta como o próprio pai foi contra o seu primeiro estágio. “Trabalhei muito em outras áreas até empreender no mercado de exportação. Quando fui trabalhar no porto aduaneiro de Recife, recebia o valor de um salário mínimo, mas o meu pai, com medo do ambiente opressor que ele vislumbrava de um porto, me ofereceu o dobro para não aceitar esse emprego. Mesmo assim eu fui em frente”, revelou.

Apesar das dificuldades, no entanto, houve unanimidade sobre a diminuição do machismo no ambiente corporativo nos últimos dez anos. “Acho que entre todas as mulheres que conseguem alcançar postos de liderança, existe em comum a procura pela capacitação. Eu, por exemplo, sempre tive isso em mente, pois é preciso ter conhecimento para poder debater em pé de igualdade dentro de um ambiente machista”, ressaltou Carol.

Não se curvar

A consultora em fisiologia vegetal Essione Ribeiro foi além. Para ela, o empoderamento feminino tem que começar dentro de casa e não no trabalho. “A dica que dou para as mulheres é que elas devem, antes de tudo, parar de se curvar e essa mudança começa em casa. Eu faço muito trabalho em campo e ouço muitas histórias de mulheres que não possuem voz e acham que isso é natural. Não é”, disse.

Essione fala por experiência própria. Vinda de uma família de 12 irmãos, teve paralisia com dois meses de vida e sofreu com o abandono do pai ainda criança. “Minha mão teve que quebrar brita para nos sustentar. Como tive a paralisia, acabei me afastando da escola por dificuldades de adaptação e locomoção, por isso só fui fazer a 1ª série aos 12 anos. Foi lá que uma professora acreditou em mim e, no meu primeiro trabalho, tive que cuidar de uma planta”, disse, emocionada, para a plateia.

Ela conta que teve que trabalhar como babá e faxineira para poder completar o ensino médio, tendo que enfrentar grandes barreiras, como estudar à luz de velas por causa da falta de energia.

“Eu batalhei muito para chegar onde eu cheguei, com meu doutorado e fazendo consultoria para empresas internacionais. Para isso, tive que olhar para minhas limitações e decidir que não poderia mais usá-las como justificativa. Isso ocorreu mais de uma vez, inclusive quando achava que estava no auge e tive um sério problema de saúde, sendo desacreditada pelo médico, que afirmou que eu poderia ficar em estado vegetativo. Enfrentei a doença e estou aqui para contar a minha história.”

Mulheres empoderadas

O termo “empoderamento” foi amplamente debatido no Fórum de Mulheres Empreendedoras, e a conclusão foi de que empoderar uma mulher é dar a oportunidade para ela chegar em pé de igualdade com os homens. A engenheira agrônoma Hilda Loschi refletiu sobre o poder da palavra na sociedade. “Eu acreditava que empoderar era quando uma mulher queria ser muito superior ao restante, mas na verdade é a transferência de conhecimento para quem está perto de mim”, disse.

Na visão da produtora de frutas Ângela Nunes, esse empoderamento facilita situações cotidianas, como no processo de logística, onde é preciso viajar muitas vezes acompanhadas apenas por homens ou na hora de negociar. “Sempre tive que me impor a vida toda. Me sinto muito sozinha, pois é um mercado essencialmente masculino e, atualmente, o meu maior orgulho é que o futuro da minha empresa estará na mão das minhas filhas. São mulheres empoderando mulheres”, concluiu.

Próximos passos

A anfitriã do evento em Petrolina e líder comercial da região leste da Corteva Agriscience, Mariana Castanho, avaliou que este primeiro fórum é um passo importante na construção de uma sociedade mais igualitária. “Eu vi um painel bem diverso, com mulheres com pensamentos diferentes, e a plateia estava bem interessada, tentando entender o que é empoderamento feminino e como é possível fazer a diferença em suas comunidades para ajudar a eliminar as barreiras da discriminação que ainda existem no agronegócio”, ressaltou.

A ideia da empresa é ampliar o número de eventos dedicados ao público feminino e formar uma cadeia de apoio às profissionais do campo, como a Academia da Lideranças do Agronegócio, voltada para capacitação de mulheres do setor por meio de aulas sobre liderança, estratégia e inovação. 

Por Fábio Santos

Fonte: Canal Rural

A Foraster Agrointeligência trabalha 4 pilares fundamentais para seu negócio Agro; Jurídico, Gestão, Inovação e Tecnologia.

Mulheres Vencem e se Tornam Referência no Agronegócio

Fórum realizado em Pernambuco debateu o preconceito de gênero e mostrou como deve ser o futuro feminino no setor produtivo

Foi realizado na última quarta-feira, dia 24, em Petrolina (PE), o 1º Fórum de Mulheres Empreendedoras do agro. No evento, que reuniu cerca de 70 mulheres, foi discutido o papel feminino no setor e como a discriminação de gênero fez com que o processo de igualdade demorasse muito a ser vislumbrado tanto nas fazendas como em empresas.

A ideia do encontro partiu da Corteva Agriscience, depois que uma pesquisa feita pela empresa revelou que 73% das mulheres do campo acreditam que há desigualdade de gênero no Brasil, enquanto a média mundial é de 66%. A mesma pesquisa apontou que, para derrubar as barreiras e conquistar a igualdade de gênero, 80% das mulheres apostam em treinamento e educação acadêmica.

Nesse sentido, a publicitária e especialista em Marketing Digital Luana Trindade criou a comunidade Empreendedoras do Vale, que tem como missão unir as mulheres do Vale do São Francisco, importante polo produtor de frutas do sertão nordestino. “Nós criamos essa comunidade onde as mulheres se sentem representadas, e posso dizer que, um ano após esse início, o resultado vem aparecendo. Não adianta se reunir apenas por se reunir, é preciso falar de negócio e é isso que estamos fazendo”, contou.

Com uma plateia 100% feminina, o fórum reuniu produtoras, pesquisadoras, advogadas, engenheiras e especialistas em exportação de produtos do agronegócio. Em comum, todas elas ressaltaram a importância da capacitação e os desafios em unir o trabalho e a família.

“Nasci em uma família machista, como a maioria no Brasil, e foi uma luta para conseguir chegar onde estou. Casei cedo, tive filho nova e continuei a minha trilha, mesmo grávida, no mestrado e depois no doutorado. Nunca parei e mesmo depois de fazer um pós-doutorado eu tinha dúvidas, afinal, não conseguia um posto de destaque, até que consegui passar em um concurso da Embrapa, onde construí a minha carreira”, contou a pesquisadora da Embrapa Semi-árido Beatriz Paranhos, que é especialista em controle biológico de pragas.

As barreiras familiares não apareceram apenas na vida pesquisadora. Outra convidada do evento, Carol Coelho, hoje especialista em exportações, conta como o próprio pai foi contra o seu primeiro estágio. “Trabalhei muito em outras áreas até empreender no mercado de exportação. Quando fui trabalhar no porto aduaneiro de Recife, recebia o valor de um salário mínimo, mas o meu pai, com medo do ambiente opressor que ele vislumbrava de um porto, me ofereceu o dobro para não aceitar esse emprego. Mesmo assim eu fui em frente”, revelou.

Apesar das dificuldades, no entanto, houve unanimidade sobre a diminuição do machismo no ambiente corporativo nos últimos dez anos. “Acho que entre todas as mulheres que conseguem alcançar postos de liderança, existe em comum a procura pela capacitação. Eu, por exemplo, sempre tive isso em mente, pois é preciso ter conhecimento para poder debater em pé de igualdade dentro de um ambiente machista”, ressaltou Carol.

Não se curvar

A consultora em fisiologia vegetal Essione Ribeiro foi além. Para ela, o empoderamento feminino tem que começar dentro de casa e não no trabalho. “A dica que dou para as mulheres é que elas devem, antes de tudo, parar de se curvar e essa mudança começa em casa. Eu faço muito trabalho em campo e ouço muitas histórias de mulheres que não possuem voz e acham que isso é natural. Não é”, disse.

Essione fala por experiência própria. Vinda de uma família de 12 irmãos, teve paralisia com dois meses de vida e sofreu com o abandono do pai ainda criança. “Minha mão teve que quebrar brita para nos sustentar. Como tive a paralisia, acabei me afastando da escola por dificuldades de adaptação e locomoção, por isso só fui fazer a 1ª série aos 12 anos. Foi lá que uma professora acreditou em mim e, no meu primeiro trabalho, tive que cuidar de uma planta”, disse, emocionada, para a plateia.

Ela conta que teve que trabalhar como babá e faxineira para poder completar o ensino médio, tendo que enfrentar grandes barreiras, como estudar à luz de velas por causa da falta de energia.

“Eu batalhei muito para chegar onde eu cheguei, com meu doutorado e fazendo consultoria para empresas internacionais. Para isso, tive que olhar para minhas limitações e decidir que não poderia mais usá-las como justificativa. Isso ocorreu mais de uma vez, inclusive quando achava que estava no auge e tive um sério problema de saúde, sendo desacreditada pelo médico, que afirmou que eu poderia ficar em estado vegetativo. Enfrentei a doença e estou aqui para contar a minha história.”

Mulheres empoderadas

O termo “empoderamento” foi amplamente debatido no Fórum de Mulheres Empreendedoras, e a conclusão foi de que empoderar uma mulher é dar a oportunidade para ela chegar em pé de igualdade com os homens. A engenheira agrônoma Hilda Loschi refletiu sobre o poder da palavra na sociedade. “Eu acreditava que empoderar era quando uma mulher queria ser muito superior ao restante, mas na verdade é a transferência de conhecimento para quem está perto de mim”, disse.

Na visão da produtora de frutas Ângela Nunes, esse empoderamento facilita situações cotidianas, como no processo de logística, onde é preciso viajar muitas vezes acompanhadas apenas por homens ou na hora de negociar. “Sempre tive que me impor a vida toda. Me sinto muito sozinha, pois é um mercado essencialmente masculino e, atualmente, o meu maior orgulho é que o futuro da minha empresa estará na mão das minhas filhas. São mulheres empoderando mulheres”, concluiu.

Próximos passos

A anfitriã do evento em Petrolina e líder comercial da região leste da Corteva Agriscience, Mariana Castanho, avaliou que este primeiro fórum é um passo importante na construção de uma sociedade mais igualitária. “Eu vi um painel bem diverso, com mulheres com pensamentos diferentes, e a plateia estava bem interessada, tentando entender o que é empoderamento feminino e como é possível fazer a diferença em suas comunidades para ajudar a eliminar as barreiras da discriminação que ainda existem no agronegócio”, ressaltou.

A ideia da empresa é ampliar o número de eventos dedicados ao público feminino e formar uma cadeia de apoio às profissionais do campo, como a Academia da Lideranças do Agronegócio, voltada para capacitação de mulheres do setor por meio de aulas sobre liderança, estratégia e inovação. 

Por Fábio Santos

Fonte: Canal Rural

A Foraster Agrointeligência trabalha 4 pilares fundamentais para seu negócio Agro; Jurídico, Gestão, Inovação e Tecnologia.